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Literatura, literariedade, denotação, conotação

“A distinção entre literatura e demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do Verbo. De que se serve o homem de letras para realizar seu gênio inventivo? Não é, por natureza, nem por movimento como o dançarino, nem da linha como o escultor ou o arquiteto, nem do som como o músico, nem da cor como o pintor. E sim – da palavra.
A palavra é, pois, o elemento material intrínseco do homem de letras para realizar sua natureza e alcançar seu objetivo artístico.” (Alceu Amoroso Lima)
“Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível.” (Ezra Pound)

Poética
I
Que é Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.

Fatos inegáveis:
• A literatura é uma manifestação artística;
• A palavra é o material da literatura, isto é, o artista literário explora a palavra em sua totalidade (significado, som, desenho)
• Em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diante da realidade e das aspirações humanas.

Dicionário:
Literatura: 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época.

Literariedade: “Assim, o objeto da ciência da literatura não é a literatura, mas a literariedade, isto é, o que faz de uma determinada obra uma obra literária.” (Roman Jakobson – formalismo russo)

Função estética: uma das características mais marcantes do texto literário é a função estética, por oposição à função utilitária *informar, convencer, explicar, responder, ordenar...) do texto não-literário. Isso significa que o artista procura representar a realidade a partir de sua visão, interpretando aspectos que julga mais relevantes, sem se preocupar em retrata-la de modo fiel. O que se verifica não é a semelhança com o real, mas a interpretação que dele se faz.


(VER “POEMA BRASILEIRO” DE FERREIRA GULLAR – livro de Ma.Luiz Abaurre pág 3 tem)

Poema brasileiro

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

no Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

no Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
(Ferreira Gullar)

Linguagem humana  linguagem animal: homem, num trabalho mental, retém o significado de uma palavra. Na linguagem humana uma mesma palavra pode ter seu significado ampliado.

Multissignificação: característica que permite que as palavras assumam diferentes significados nos textos literários.

Subjetividade: a literatura está associada à expressão pessoal de experiências, emoções, sentimentos, o que lhe confere caráter subjetivo. Essa característica faz com que as informações deixem de ser o centro de atenção do texto literário. Os estados de alma, os sentimentos dos personagens, suas características sempre são prioritários. É por essa razão que se afirma que a linguagem do texto literário é preferencialmente conotativa – cria novos significados. O autor estabelece, entre as palavras, relações inesperadas e, muitas vezes, insólitas, revelando diferentes maneiras de ver o mundo e a realidade. No texto não-literário, a linguagem é predominantemente denotativa, porque seu objetivo é criar uma relação imediata entre o que se diz e a realidade referida pelo texto.

Ex:

“Ele está com a cara manchada”

“Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio” (Chico Buarque)

Às vezes, uma mesma frase pode apresentar duas ou mais possibilidades de interpretação:

“João quebrou a cara”

Sentido 1: a palavra apresenta seu sentido original, impessoal, independente do contexto, tal como aparece no dicionário; nesse caso, prevalece o sentido denotativo – ou denotação – do signo lingüístico: João, por um acidente qualquer, fraturou o rosto.

Sentido 2: a palavra aparece com significado alterado, passível de interpretações diferentes, dependendo do contexto em que é empregada; nesse caso, prevalece o sentido conotativo – ou conotação – do signo lingüístico: João se saiu mal.

A linguagem poética explora o sentido conotativo das palavras, num contínuo trabalho de criar ou alterar o significado, já cristalizado, dessas mesmas palavras. Dessa forma, ao interpretar o sentido conotativo das palavras, o leitor transforma-se em leitor-ativo, em tradutor, em co-autor do texto. Para tanto, é preciso sempre estar atento ao contexto, que nos fornecerá indicações concretas para decifrar o jogo denotação/conotação.

Mulheres de Antenas (fragmento)

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Antenas
Despem-se pros seus maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas Helenas
(...)
(Chico Buarque e Augusto Boal)

Onde e como aparece um caso de conotação? Explique-o.

Resposta esperada: Na palavra falenas. Denotativamente significa “espécie de borboleta noturna”. Ora, o texto faz uma crítica ao patriarcalismo da sociedade anteniense e à excessiva submissão da mulher; o texto afirma que os maridos antenienses, à noite, bêbados, buscam carinho de outras falenas. O leitor não pode interpretá-lo literalmente, imaginando que os homens saem à caça de insetos; evidentemente, a palavra “falenas” está empregada em sentido conotativo e, por uma série de relações, entendemos que se refere a mulheres da vida noturna.

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